Quem passou pela Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (FOSPA) nas últimas quatro décadas certamente já escutou a voz singular de Dorvalina Gomes, carinhosamente conhecida como Ina. Atualmente na Secretaria Artística, vivenciou a maior parte dos desafios pelos quais a orquestra atravessou.
Por trás do palco, sua trajetória na OSPA iniciou no dia 1° de outubro de 1977, período em que o fundador, Pablo Komlós, ainda era regente. Mas as raízes com a sinfônica são ainda mais antigas. Passou boa parte da infância no Instituto de Artes da UFRGS, onde seu pai era funcionário. O contato lúdico com a música foi o grande pretexto para trabalhar com a orquestra mais antiga do Rio Grande do Sul há 42 anos. Conheça a história da funcionária mais antiga em atividade do Setor Administrativo da OSPA na entrevista a seguir:
1)Quando entrou na OSPA e quais lembranças guarda daquele período?
Foi no dia 1 de outubro de 1977, como office girl. Nasci e me criei no Instituto de Artes da UFRGS, onde meu pai era funcionário. Passei boa parte da infância com a família do pianista e professor Tasso Corrêa. Foi então que a professora Rosa Helena Figueiredo, viúva do professor Jairo Peres Figueiredo — os quais considero meus dindos —, me instruiu a procurar a OSPA. Guardo boas lembranças daquele espaço e do carinho de todos os professores que continuam por lá e frequentemente atuam como solistas na OSPA. Na Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, o presidente era o jornalista Osvaldo Goidanich. Tenho ótimas recordações: de gentileza e de bondade.
3) Como era a OSPA naquele período e quais eram os desafios enfrentados?
Havia muitos funcionários na administração. Muitos se aposentaram e outros faleceram. Alguns, ainda, buscaram novos horizontes. Agradeço por ter convivido com todos. Naquela época, a sede da Fundação ficava na Avenida Desembargador André da Rocha, 50. Os desafios são os mesmo enfrentados pela atual gestão: buscar apoiadores e patrocinadores por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Inclusive, tínhamos sócios contribuintes com cadeiras cativas. Nessa época, o Salão de Atos da UFRGS e o Theatro São Pedro foram nossos grandes parceiros!
Um concerto que me marcou muito aconteceu na Praça da Matriz. Na ocasião foi interpretada Abertura 1812, de Tchaikovsky, regida pelo maestro Eleazar de Caravalho, com canhões, sino da Catedral e fogos de artifício (na esplanada da Assembleia). Foi inesquecível! Houve ainda participação do padre e dos maestros Alfred Huelsberg e Manfredo Schmiedt.
4)Qual foi a primeira apresentação da OSPA que você assistiu?
Foi na escadaria da Igreja da Nossa Senhora das Dores, com regência do maestro Pablo Komlós. Foi curioso. Houve até um episódio inusitado: em meio ao concerto, uma lâmpada caiu no chão.
5)Quais lembranças você guarda do fundador da OSPA, Pablo Komlós?
Grande parte do meu conhecimento sobre o Pablo foi através da assessora musical, Gertrude Milch Meyer, braço direito do regente e responsável pela organização artística dos concertos. Em 1978, um ano após meu ingresso, ele faleceu. Como todos sabem, Pablo Komlós foi muito respeitado — percebe-se pelo público que acompanha nossas mídias sociais. Foi um grande maestro.
6)Quais pessoas mais lhe marcaram na OSPA?
Os presidentes da Fundação Ospa Oswaldo Goidanich, José Mariano da Rocha Filho, Daniel Ioschpe, Ivo Nesralla, Carmen Pinto, Ludwig Buckup, Arnaldo Campos da Cunha, Luiz Osvaldo Leite e Luís Roberto Andrade Ponte e Flávio Oliveira, que não chegou a presidir, mas teve um vínculo forte conosco. Tenho muito carinho e respeito por todos.
7)Qual o segredo para trabalhar há tanto tempo no mesmo lugar?
Amor pelo que faço, carinho dos colegas e o respeito de todos, além do valor histórico da OSPA, que completa 70 anos em 2020.
8)Existe um sonho que você ainda busca concretizar na OSPA?
Continuar o trabalho com meus colegas, todos juntos, no Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), na sede da Casa da OSPA.
9) Quais funções já executou dentro da OSPA e com o que trabalha hoje?
Realizava todas as atividades externas para o Setor Administrativo da OSPA. Na época da presidente Carmen Pinto — única mulher a desempenhar o cargo na história da Fundação —, conquistamos um carro, facilitando esse trabalho na rua. Certa vez, Gertrude Meyer solicitou minha ajuda para auxiliá-la na Secretaria Artística com o arquivamento de documentos antigos. Mostrou-me o necessário, que aprimorei ao longo do tempo. Ela estava em processo de aposentadoria. Recentemente, na atual gestão do maestro Evandro Matté, com a reorganização dos setores, passei a desempenhar outras funções, como a montagem de algumas partituras na Musicoteca.
Hoje, com uma grande rede de amigos arquivistas, zelo pelo acervo, que estou organizando para pesquisas futuras. O material é composto por DVDs, CDs, fitas de rolo, releases antigos, fotos de músicos, de solistas, de regentes, de presidentes e ex-presidentes, medalhas, troféus, quadros doados, programas, além de trajes de Pablo Komlós e do maestro Nestor Wennholz. Guardo para o futuro Memorial da OSPA. Não sou arquivista, mas prezo, porque reconheço a importância da nossa história.